Eike – Tudo ou Nada (BRA, 2022), escrito e dirigido pela dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade, é uma adaptação do livro "Tudo ou Nada - Eike Batista e a Verdadeira História do Grupo X", escrito pela jornalista Malu Gaspar, sobre um breve, porém intenso período da vida de Eike Batista, ex-bilionário brasileiro, dono do grupo de empresas EBX (OGX, MMX e OSX) e com uma fortuna estimada em US$ 30 bilhões em 2012, segundo a revista Forbes.
Eu assisti ao filme e selecionei 21 cenas, que estão disponíveis em meu Twitter.
O recorte temporal da obra foi um dos principais desafios do projeto. Começa em 2006 – quando Eike aproveita-se da fase de expansão econômica do Brasil com o pré-sal para criar a petroleira OGX –, até 2017, ano quando ele, alvo da Operação Lava Jato, é preso acusado de integrar o esquema de corrupção do ex-governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral. Os diretores elegeram esse recorte específico como o mais interessante da biografia de Eike, pois simboliza a euforia do Brasil, o otimismo da época, a vaidade e a ambição de uma figura complexa, cuja personalidade era típica de um apostador.
A linguagem pop confere ao filme uma estética moderna e ágil. Filmado em 2021, com diversas restrições e protocolos rígidos da pandemia, o longa tem duas claras inspirações para mim: O Lobo de Wall Street (EUA, 2013), de Martin Scorsese, e Psicopata Americano (EUA, 2000), dirigido por Mary Harron.
Segundo o produtor Tiago Rezende, a escolha de Nelson Freitas como protagonista foi uma aposta improvável. Quando recebeu o convite, ele declinou uma novela para dar novos rumos a sua carreira. Em um intenso processo de preparação, Nelson emagreceu 10 quilos em um mês e meio e ainda passou por uma cirurgia de emergência durante as filmagens.
A opção dos diretores de fugir de casos pessoais e focar apenas na persona de Eike, enquanto empresário, é evidente. O roteiro não se preocupa em aprofundar o lado pessoal do empresário fora do escritório. Talvez, imbuídos na popularidade do personagem, o longa não se importa em contextualizar.
Embora o acting e a decupagem deixem a desejar, Eike – Tudo ou Nada tem o mérito de explicar o mercado do petróleo e o jargão dos negócios. Um assunto que poderia ser maçante, mas que no longa funciona bem misturando off (a narração é de alguém que explica e nos conduz), infográficos e diálogos explicativos. Por exemplo, nesta cena abaixo quando Tonico (Jonas Bloch) pede para que sua mulher explique o que é IPO.
O escândalo pessoal envolvendo a conturbada relação com Luma de Oliveira é mostrado no longa numa espécie de flashback onírico. Eike recebe um cientista não convencional em seu escritório para testar um dispositivo tido como "revolucionário", com o qual ele terá a possibilidade de reviver sua relação com Luma. Numa mise-en-scène que emula um cenário de teatro alternativo – recurso, a meu ver, pobre esteticamente –, a sequência é predominantemente mal iluminada e visualmente simplista numa, quiçá, tentativa de revelar certa obscuridade do passado de Eike. Se, por um lado, a sequência agrega por ser a única a falar da vida emocional do protagonista, por outro, parece um remendo mal acabado que não coube na história, mas que deram um jeito de cololcá-la pela fofoca em si.
Existe uma subtrama focada no cotidiano de uma família de classe média para ilustrar o núcleo de investidores que se deixou levar pelo discurso de Eike e, por conseguinte, acreditou que a petroleira era uma mina de ouro. É compreensível que o longa queira mostrar os efeitos sociais daqueles que perderam suas economias por conta das fanfarrices do ex-bilionário, contudo, o resultado é esquemático e parece estar inserido na trama para fins meramente expositivos. É uma pena, porque há momentos fortes e de bom acting entre Carlos (Adriano Toloza) e Irene (Carol Melgaço) como nesta cena.
(BRA, 2022)
1h50min
roteiro e direção Andradina Azevedo e Dida Andrade
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